A Mina de S. Domingos e o rio Guadiana

Ano: 
1893
Descrição: 

A Mina de S. Domingos e o rio Guadiana
Lisboa : Typographia da Companhia Nacional Editora, 1893. - 29 páginas

Nas proximidades do anno de 1875 o desenvolvimento dos trabalhos de desmonte a descoberto na Mina de S. Domingos fez antevêr o momento em que, tornando-se inevitavel pela opção d'este systema de lavra arrancar uma quantidade muito avultada de minerio, grande parte d'este seria de qualidade tal, que improprio para exporta ção no estado natural pelo seu fraco teor em cobre e pelo valor cada vez mais decrescente d'este metal no mercado, não haveria outra alternativa senão tra tar-se na localidade, pela fórma mais economica ao passo que menos prejudicial que se podesse pôr em pratica.
Dous systemas de tratamento s'apresentavam n'estas circumstancias: o da calcinação do minerio e subsequente lavagem taes como se passa nas minas de Tharsis e Rio Tinto de Huelva em Hespanha.

Conseguida a necessaria auctorisação das autoridades competentes para o primeiro destes tratamentos, emprehendeu-se a titulo d'experiencia por varios methodos e em varias escalas.

A ustulação em fornos fechados com chamine d'alta tiragem, se bem permittia o aproveitamento parcial do enxofre e pela altura da chamine collecto ra deitava os fumos sulfurosos a uma distancia do solo onde não affectavam sensivelmente a vegetação nem o ambiente respiravel, não podia no entretanto ser applicavel mais do que a uma quantidade relativamente limitada de minerios, e pela carestia das installações e do tratamento tornava-se praticamente impossivel.

Passou-se a experimentar a ustulação em teleras, medas a descoberto, pela maneira adoptada nas minas visinhas da provincia de Huelva. Em pouco tempo se reconheceu que além da perda total do enxofre pela combustão e evolução dos gases sulfurosos, a acção d'estes, rastejando sobre salo até una distancia consideravel, era prejudicial a toda a vegetação, e sensivelmente incommoda á respiração.
Posta portanto de parte a calcinação dos minerios pelos motivos apontados, restava o tratamento pela via humida como unico meio d'utilisar o mineral de baixo teor, que não podesse ser exportado. A extracção do cobre soluvel era por este systema mais demorada do que pela ustulação, mas em com pensação comportava o aproveitamento do enxofre, que retido nos minerios depois da lavagem permittia a venda d'estes, ainda que por pouco preço, pelo valor do enxofre que contivessem.
Para este modo de tratamento porém, tornava se indispensavel primeiramente dispôr de grandes quantidades d'agua doce, e, segunda e não menos importante consideração, impedir que o despejo das aguas resultantes do tratamento e naturalmente carregadas de saes de ferro, fosse prejudicar a vegetação marginal ou a pesca das ribeiras ou rio para onde, a não tomarem-se medidas adequadas, iriam affluir.
A primeira d'estas condições tornava-se d'execução relativamente facil. Um açude construido sobre o barranco do Chumbeiro, em local contiguo á Mina e em nivel superior ao sitio do tratamento.
É pois para lastimar que haja quem por motivos menos decorosos, ou por mesquinhas personalida des e fechando voluntariamente os olhos á luz da verdade, se obstine em denigrar e hostilizar uma empreza cuja existencia tem sido fonte de tanto beneficio para os dois concelhos immediatamente interessados. Felizmente não tem sido essa a disposição do Governo Portuguez nem dos seus delegados e autoridades subordinadas, e a Mina de S. Domingos só tem a congratular-se da esclarecida protecção e invariavel benevolencia que até hoje lhe teem dispensado os Poderes publicos de toda a categoría.
Mina de S. Domingos, 12 de Abril de 1893.

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