
Transcrição João Nunes
22 de Julho de 1865-Na mina de cobre de S. Domingos houve grande desordem. Alguns contratistas da extração do mineral tendo acabado os seus trabalhos pedirão ao chefe D. Lucas que fosse medido a fim de pagar o que de direito lhes pertencesse. O chefe recusou ao princípio; receando, todavia, provocar sedição, prestou-se a condescender, fazendo-se acompanhar por quatro guardas e dois Ingleses na direção do túnel. Era seguido por perto de 200 operários que instavam para que lhes pagassem.
Chegados ao túnel D. Lucas opôs-se a que a chusma entrasse com ele na mina, e designou quatro contratistas para assistirem á medição. Os trabalhadores recusaram o alvitre, e quiseram forçar a entrada. Os dois Ingleses dispararam os revolveres que levavam, e ferirão alguns indivíduos. Os tiros exasperaram a multidão, que então ascendia a 400 pessoas, e D. Lucas apenas teve tempo de refugiar-se em uma casa para escapar á morte.
Os amotinados iam lançar fogo á casa quando D. Lucas se apresentou prontificando-se a pagar tudo o que quisessem. Mata, mata, eram as vozes que circundavam em torno. Recebeu o chefe várias pauladas e pedradas, que o lançaram por terra. Teria sucumbido se um dos cabeças de motim não o salvasse, opondo-se energicamente às agressões da multidão. D. Lucas foi conduzido ao hospital. Depois de curado levaram-no ao escritório, onde distribuiu 237 libras aos operários. Quando estes saíram encaminharam-se ao túnel em demanda dos dois ingleses que dispararam os revolveres, mas não os encontraram. Depois tudo ficou em sossego, e os homens reassumiram os seus trabalhos.
O administrador do concelho de Mértola, apenas soube do ocorrido, requisitou força armada de Beja e de Vila-Real de Santo António.
A 13 chegarão a S. Domingos 100 homens de infantaria nº 17 e 100 homens de caçadores nº 4, vindo estes últimos rio acima pelo Guadiana n'um barco a vapor. As autoridades prenderam logo dez dos cabeças do motim e procede o sumário contra os implicados.
(Jornal do Comércio)