António Guerreiro Rosa

Nome do Pai: 

José Rosa

Nome da Mãe: 

Candida Guerreiro

Data de Nascimento: 
1928-08-25
Local do Registo: 
Santana de Cambas
Distrito / Pais (se for estrangeiro): 
Beja
Concelho: 
Mértola
Freguesia: 
Santana de Cambas
Estado Civil: 
Casado
Nome do Cônjuge: 

Ana Maria Pereira

Residência - Localidade: 
Santana de Cambas
Data de Falecimento: 
2018-04-19
Local de Falecimento: 
Albernôa
Local da Sepultura: 
Santana de Cambas
Informação Pessoal: 
  • Biografia
  • Assento de Nascimento
  • Assento de Casamento
  • Assento de Óbito
Empresa: 
Mason and Barry, Ltd.
Nº. do Sindicato: 
803
Data do Registo: 
1943-12-09
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Nº da Caixa de Previdência: 
1755
Serviço: 
Contabilidade
Notas adicionais: 

Escriturário da casa do povo de Santana de Cambas em 1952.

“– E como é que costumava ir para a mina? Ia sempre a pé?
– Ia a pé, andei a pé 8 anos até 1951, princípio de 51 é que comprei uma pedaleira27. Eu era empregado aqui na casa do povo, quando saia à tarde da mina, trabalhava de noite ali na casa do povo, era uma coisa extraordinária, nem a casa do povo tinha condição para pôr ali uma pessoa, foi em 1936 quando começou a casa do povo. Um ordenadinho pequenino, porque também o serviço era feito só à tarde ou à noite e na altura não havia assim muito serviço, mais tarde é que começou a haver mais serviço.”

“ – A empresa tinha ali de tudo, depois tinha ali outra secção que tinha vacas para fornecerem leite ao pessoal, aos empregados principais, não era para todos, tinham uma fábrica de moagem e depois tinham um armazém de materiais lá em baixo antes de chegar à mina, onde tinham os materiais para os departamentos depois tinham então um armazém de mercearias e tinham a secção de fazendas que era onde está o Zé Monteiro.
(…) era para o pessoal que trabalhava na mina, para irem lá despachar, comprar lá coisas, sempre compravam coisas um pouco mais baratas e a empresa não fazia negócio daquilo, procuraria saldar a despesa, mas não havia ali lucros.
No hospital chegaram a ter 2 médicos, 4 enfermeiros e uma parteira de depois tinham uma farmácia tudo ali ligado com um director clínico e ainda tinham mais outra pessoa, depois há uma parte da escrita, isto na farmácia… Fui operado na Mina de S. Domingos ao apêndice, o médico que me operou era o Dr. Francisco Valente Rocha, era dali, depois foi para Lisboa, era parteiro, vinha então de 8 em 8 dias à mina operar depois passou a vir de 15 em 15 dias e depois acabou por deixar de vir. Vinham ver os doentes a casa,telefonava-se para a mina e o médico vinha a casa, e esses montes onde havia operários.
Nós aqui em Santana chegámos a ter 2 médicos a viver aqui, onde é a casa do povo esteve um a viver e noutra casa aqui esteve outro, o Dr. Fernandes.”
(“Procurando património mineiro num lugar insuspeito: a cabeça dos mineiros. Uma apropriação letrada dos discursos ditos destinada a eliminar vácuos do arquivo escrito.” Rui Guita)

“– Trabalhei na mina 25 anos, desde o dia 9 de Dezembro de 43 até 1968.
– Então, entrou para a mina com…
– 15 anos.
– Quem o levou para lá?
– O meu tio, era chefe da Contabilidade, o guarda-livros.
– E levou-o logo para o escritório?
– Pois claro…
– Só trabalhou nos escritórios?
– Só nos escritórios, mais lado nenhum.
– Que tipo de trabalho fazia?
– Ao princípio atendia os telefones, parece que foi um dos sítios onde primeiro apareceram os telefones automáticos, foi ali na mina.
– Telefones automáticos?
– Tinham uma cabine com 50 telefones automáticos, de marcar… não conhece isso?
– Daqueles de roda?
– De roda, de marcar e tinham então, também dos outros, de manivela, tinham aí para as estações do caminho de ferro, tinham um directo para o Pomarão e a gente depois, os mais novos, tínhamos que atender os telefones … ali por todos os departamentos havia telefones daqueles automáticos e tinham então um directo para o Pomarão e tinham então também para as estações do caminho de ferro. Todas as estações que havia aí tinham destes de manivela (…). Lá na casa dos guardas, dos contínuos, lá no escritório, ali ao lado, tinham lá um telefone desses, de manivela que era para ligar para as estações e para o Alto de Santana, onde estavam os agulheiros para fazer a mudança da linha do caminho de ferro (…). Lá os mais novos, estava eu, estava o Máximo e outros mais novos, tínhamos que atender os telefones, os que estavam dentro do escritório e depois esse que estava ali que era directo para o Pomarão,
porque não havia estação de correios com telefones na Mina de São Domingos, havia os telefones da empresa. Ora, os telegramas para o estrangeiro, para a Mason & Barry, para a Inglaterra e para outros lados, eram transmitidos através do telefone directo da empresa, para a estação do Pomarão, porque no Pomarão havia uma estação, de forma que depois dali é que transmitíamos os telegramas e recebíamos os que vinham de Londres também (…). “
“– Mais para a frente estava a Química e a química tinha lá o Sr. José Fernandes que era o encarregado daquilo e depois tinha uns 6 ou 7 empregados para fazer as análises por causa do minério (…). Aquilo era tudo triturado, as pedras de minério para fazer as amostras, para saber a percentagem de cobre e pirites. Tinham uns fornos onde punham aquilo lá dentro para ver aquilo bem, já não é da minha secção, mas eu ia sempre ali, conhecia aquilo muito bem.
– Chegou a ir lá abaixo à mina?
– Não cheguei, depois no fim já não deixavam ir, fiquei com bastante pena, ainda tentei mas aquilo já não estava em condições.”
“– Então trabalhou na mina até que idade?
– Então foram 25 anos, eu tinha 15, é fazer as contas. Aqui na casa do povo estive desde 1950 até que fui reformado, estive mais tempo na casa do povo que na mina. Depois foram vendendo sucata para ir pagando aos empregados, aos operários, parte dela foi quase dada. Tinham ali uma escrita, uma coisa bem montada, aquilo era tudo traduzido
de português para inglês, para mandarem para Londres, a escrita tinha de ir para Londres e tinha de ir em inglês.
– Em Londres é que orientavam tudo aqui?
– Não, quer dizer, aqui era tudo orientado daqui, mas tinham que mandar contas para Londres. Lá era o principal.
– Vinham aí os auditores conferir a escrita porque houve um desfalque, ainda eu não trabalhava lá, a partir dai a escrita era toda conferida pelos auditores, depois ia tudo para Londres. E todos os dias às 4 horas, vinha o meu tio com o Sr. Guilherme e davam balanço à caixa desde que aconteceu isso.
Na transmissão dos telegramas para o Pomarão, aquilo era em Inglês, nós não sabíamos inglês, era tudo através de letras e números, era o abecedário com os respectivos números que calhava a cada letra, tivemos que encaixar aquilo na cabeça para transmitir aquilo. A-1, b-2, c-3, d-4, e-5, f-6, g-7, h-8 …dizíamos a letra e o número, se escapasse
uma coisa não escapava a outra e recebíamos de lá o mesmo.
Então de Londres vinha para o Pomarão…
Do Pomarão vinha o empregado da empresa que estava na estação dos correios, levantar o telegrama que tinha vindo e depois tinha de o transmitir para nós.
Por exemplo, aí nos telefones dos correios, eles também tinham dificuldade em transmitir os telegramas, por exemplo alguns telegramas tinham de passar pelos telefones dos CTT da mina, ali nos correios, eles lá e noutros lados trabalhavam com o nome de terras, por exemplo, António – Aveiro A-Aveiro, Nazaré que é o N, F-Faro, C- Coimbra, diziam a letra
e o nome da uma terra ou cidade. E tínhamos de encaixar essas coisinhas na cabeça.”
(“Procurando património mineiro num lugar insuspeito: a cabeça dos mineiros. Uma apropriação letrada dos discursos ditos destinada a eliminar vácuos do arquivo escrito.” Rui Guita)

“– O serviço depois era várias coisas, trabalhávamos com os devedores e credores, os livros, na mesma sala chegámos a estar ali 14 empregados, naquela sala estava o caixa, estava outro senhor que fazia os pagamentos da sílica, que eram pedras que eles compravam de pessoas que andavam acartando, além daquele quando se vai para a mina, pela estrada, são então aqueles serros a que chamam o Serro do Guizo, dalém foram muitas toneladas de pedras para lá, para gastar nas fábricas de enxofre, aquilo era tudo queimado ali e andavam pessoas, coitadas, a acartar pedras…
– Pessoas particulares?
– Particulares, que depois vendiam…
– Vendiam à empresa…
– Vendiam à empresa … havia então um senhor lá que pagava essas coisas, essas senhas a pessoas que iam vender essa pedra.”