Pedro Esperança Martins

Nome do Pai: 

António Martins Pedro

Nome da Mãe: 

Maria Esperança

Data de Nascimento: 
1918-02-27
Local do Registo: 
Santana de Cambas
Distrito / Pais (se for estrangeiro): 
Beja
Concelho: 
Mértola
Freguesia: 
Santana de Cambas
Local de Nascimento: 
Montes Altos
Estado Civil: 
Casado
Nome do Cônjuge: 

Teresa Diogo Martins

Morada: 
Rua da Filarmónica
Data de Falecimento: 
2007-11-21
Local de Falecimento: 
Montes Altos - Lar
Local da Sepultura: 
Cemitério da Mina S.Domingos
Informação Pessoal: 
  • Biografia
  • Assento de Nascimento
  • Assento de Casamento
  • Assento de Óbito
Empresa: 
Mason and Barry, Ltd.
Nº. do Sindicato: 
73
Data do Registo: 
1932-12-07
Data de Inscrição: 
1947-01-01
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Data da Aprovação: 
1947-04-30
Nº da Caixa de Previdência: 
677
Departamentos: 
Fábrica de Enxofre
Profissão / Categoria: 
Apontador Listeiro de 1ª
Local de Trabalho: 
Achada do Gamo
Notas adicionais: 

Entrevistadores- em que ano é que nasceu?
PE-Eu nasci no dia 27 de Fevereiro de 1918. Nos Montes Altos, Vim para aqui para a mina com 5 anos. Há 80 anos que cá estou.
Ent- E o que é que faziam os seus pais?
PE- O meu pai trabalhou nas Oficinas da mina e depois foi para a tropa, foi para a Guarda Republicana. E mais tarde vim para aqui. Daqui.. olhe eu sai daqui com 3 meses para Odemira.De Odemira o meu pai veio para a Salvada. Não me lembro de Odemira, não me lembro, Mas da Salvada lembra-me. Vim de lá com 5 anos, já sabia alguma coisa... e viemos depois para a mina. Aqui me estabeleci, fui trabalhar para as Oficinas com 14 anos andei aqui à Escola, bem entendido. Antes de ir para a Oficina andei na escola. Nesse tempo, aos 13 anos, tínhamos que sair da escola. Então fui para a oficina com 14, Tinha ai os meus 17 ou 18 anos e mandaram-me para o escritório da Oficina a dar as fichas aos operários.
Ent- Mas e o que é que fazia na oficina?
PE-Na oficina estava na máquina de a principio um principiante aqui na oficina estava primeiro na máquina de
roscar, roscar tubos de ferro, roscar parafusos.. Depois ia para a máquina de furar, ia para o pé dum torno para ter ali o torneiro e para aprender alguma coisa. Dai seguia ou para serralheiro.
E eu, não sei, Não fui para uma coisa nem para outra. Fui para o escritório..
la estive. Entretanto, casei... Sabe quanto eu ganhava quando casei? Nove escudos!
-Bem onde eu queria chegar era à mina. Quando estava no escritório da oficina ganhava pouco nesse tempo. O ordenado era relativamente fraco. Acontece que, a fábrica nesse tempo já trabalhava...
A fábrica do enxofre começou em 1936 a trabalhar e então o chefe que lá estava, que era o senhor Edward Richard tinha lá dois empregados de escritório, mas ele não precisava de mais nenhum porque ele fez a nova fábrica do enxofre. O Edward Richard copiou a fábrica do enxofre porque a fábrica do enxofre foi feita por um alemão e um sueco. Esses é que foram os engenheiros, aqueles que fizeram rapidamente. Mas o senhor Edward Richard, um homem esperto e bom engenheiro, depois da fábrica do enxofre começar a trabalhar pensou em fazer um concentrador, Chamava-se um concentrador, a segunda fábrica de enxofre. E então como não fez, só precisava de mais um empregado e eu fui para lá.
Ent- Isso em que altura?
PE-Então, depois como eu já era casado e começaram a aparecer encargos de família, e ele um dia precisou de um empregado mas não queria admitir ninguém que fosse doutra secção um empregado para lá. Acontece que eles convidaram um, mas o homem já não estava capaz de ir para la porque já tinha uma certa idade E eu, sabendo aquilo, esperei o Edward viesse para ir almoçar e almoçasse para eu ir à Oficina. E disse-lhe "senhor Edward queria pedir um favor. Então diga lá Pedro, Ouvi dizer que o senhor queria um empregado lá para o escritório, mas que não queria meter ninguém, queria um empregado doutra secção que fulano que não podia ir para lá e tal se não se importasse eu ia para la. Você quer isso Pedro? Pois quero Deixe estar que eu vou falar ja como seu chefe (que era Palmer, um inglês) Vou falar já com ele. Com o outro tem que se ver porque. oh Pedro, então mas você.Não senhor não estou mal disposto...estou vendo mais facilidades la com que vejo aqui. Aqui estão 8 empregados, todos novos, não vejo futuro nenhum e nem tã cedo Está bem, pronto, então vá."
E no outro dia, fábrica do enxofre com ele. Fui para la, la estive na fabrica do enxofre até estarmos parados ai em 1960, 1961 Parou o concentrador, depois parou a fábrica do enxofre.. Acabou de parar e transferência para outro lado. E onde havia de calhar? No departamento mineiro. Foi então que fui para o serviço mineiro, para o serviço de contra-mina. Até 1968 que a mina acabou.,
Ent-A volta de 1962, 1963 já havia pouco trabalho aqui na Mina?
PE-Sim. Já ia dando em decadência porque o pessoal começou a ir daqui embora...Em 64 já muito pessoal estava a sair para a Bélgica, para a Panasqueira, para o Algarve.
Ent-O senhor Pedro lembra-se quando é que foi inaugurada esta nova igreja?
PE-A igreja, eu lembro-me bem... Então eu é que toquei o sino quando ela ardeu no dia 4 de Agosto de 1938. Estava eu no Centro Republicano... estava além com mais camaradinhas. Tínhamos um rádio além no Centro que era um radio grande e íamos, para alem, ouvir os programas.. eu e mais dois amigos o Manuel Flores, eu e o Zé Luís. Os três estávamos la e estavam mais dois senhores a vender vinhos.
Um deles que veio cá fora à rua vê labaredas pela janela da igreja. Entrou no Centro "a igreja está a arder" A gente sai, saímos os moços, teria ai os meus 19, 20 anos, tinha 20 pois...fugimos até la, batemos no posto da Guarda Republicana para que eles não dissessem que não lhe iam lá dizer, batemos, dissemos, "olha a igreja esta a arder, então a gente já la vai". E eu vou, entretanto, abri a sacristia, a porta do sino estava fechada e eu que faço? dou um passo ou dois atrás, dei-lhe um pontapé, partiu-se a fechadura, vamos embora agarrei na corda do sino, já conhecia aquilo, comecei a tocar, a tocar, até que começou a aparecer para ali pessoal. Por esse motivo fui eu chamado umas poucas de vezes à PIDE. Queriam que eu dissesse que a porta estava fechada, para se julgar que aquilo tinha sido crime, Mas eu não disse. Disse sempre que eu e que a abri, que estava fechada. Depois veio-se a saber que quem tinha pegado fogo à igreja tinha sido o próprio sacristão, sem querer, claro Depois esta foi inaugurada, eu tenho a impressão que foi em 1951,
Ent E há diferenças entre esta igreja e a anterior?
PE-È a mesma coisa. Ali não houve mudanças nenhumas. Eu tenho a impressão que na sacristia é que fol feita ali uma saliênciazita que está ali ao lado da porta do lado esquerdo, isso é que foi feito. Então, as paredes não arderam e a construção estava boa... só ardeu a madeira.
Ent-Quando trabalhou na mina como é que era a vida lá dentro, a vida com os colegas, a vida com os ingleses, a relação com os capatazes..
PE- Mais ou menos. Não era assim muito estúpida..Era de camaradagem.
Os ingleses é que não contactavam cá muito com a gente porque eles tinham lá maneira de ser deles. Mas dentro do serviço nunca tive nada que dizer dos chefes, Nunca.Nem dos portugueses nem dos ingleses.

Ent-Você manteve-se ate 1968?
PE- Ate ao dia 25 de Junho de 1968. Entreguei a chave, entregamos todos, esses poucos que andavam ai nesse tempo. Era uma dúzia deles que trabalhava lá nos mármores, os dos plásticos e eram mais cinco ou seis que andavam ai em limpezas. Mas acabou tudo, acabou tudo naquele dia.
Ent-Então quantos capatazes é que havia nas Oficinas, lembra-se?
PE Conto-lhos já Olhe,na secção que eu trabalhei, dois. Na de ferreiros um, três, na de caldeireiros outro, quatro, electricistas cinco, carpinteiros, seis; fundição, sete, secretaria,oito;No total eram 8 capatazes.
PE-Acima do capataz, geralmente eram todos os engenheiros. Havia o chefe geral que estava alem no Palácio, que era o numero um. Olhe, eu cá conheci vários.
Ent E o que estava lá nas Oficinas lembra-se dele?
PE- Lembro-me, o último era Palmer. Inglês. E teve o Edmundo também,
Ent-Não se lembra assim de mais nenhum. O campo de futebol tem o nome de um Cross Brown.,
PE Então, esse era o patrão, esse vinha aqui de quando em vez, estava em Inglaterra e de vez em quando vinha aqui a ver o gado...
Ent Em 1945, quando passou a onze escudos, foi na altura da guerra?
PE-Foi.
Ent Nesse período havia problemas de abastecimentos, de alimentos, dificuldades maiores?
PE-Em todo o pais havia dificuldades...e aqui houve racionamentos,mas não havia assim problemas como com o resto das pessoas... Não, não havia problemas com os operários.
Ent-Vocês tinham cantina própria?
PE-Sim. Era um armazém próprio da empresa. Tinham um armazém.
Ent E tinham cantina onde iam almoçar?
PE-Cantina não. Tínhamos aqui uma coisa...chamava-lhe a gente a sopa,forneciam uma sopa.
Ent-Mas toda a gente diz que se vivia aqui uma situação difícil, de fome.
PE-Então, mas quem é que não tinha dificuldades nesse tempo após a guerra.
Ent Prefere então falar das festas aqui da mina... O que é que se lembra?
PE Oh lembro-me de andar por ai saltando, dançando.
Ent-Qual é que era a grande festa da mina, era quando?
PE-A grande festa da mina era o S. João,dia 24 de Julho. Havia outras. Dia 4 de Dezembro, que era a festa de Santa Bárbara, o dia 4 de Agosto, que era a festa de S. Domingos,o padroeiro do Departamento de Engenharia e Oficinas.
Ent-Havia dias diferentes para sectores distintos?
PE Era. O dia de S. Domingos para uns e o da contra-mina era o dia 4 de Dezembro, a Santa Bárbara.
Ent- O senhor Pedro casou com 22 anos, já nos disse, e quantos filhos é que teve?
PE- Casei com 23 anos, e tive sete filhos.
Morreu um pequenito.
Ent-Com a horta e os filhos sobrava pouco tempo para o copito?
PE Pois, mas tinha que ser.
Ent-Todos os dias ou...
PE-Era conforme se podia... era a entretenga. Era o aperitivo.
Ent - Sim senhor, e depois do jantar, Xixi e cama (risos).
Ent- E ao domingo? O que é que as pessoas costumavam fazer?
PE-Domingo era o dia das hortas. Dar um passeiozinho, havia a banda e íamos ao jardim. Uma banda boa com trinta e tal alunos..
Ent-O que é que faziam de especial no S. João que era a festa mais importante da Mina de S. Domingos...
PE- O que é que faziam? Dançava-se,armavam o mastro,enfeitavam-se; distribuíam folhas de papel às raparigas para fazer os arquinhos, os ramalhetes. Vinha a verdura do Pomarão porque à beira rio havia muita verdura,
Principalmente mantrastes e faias, e várias qualidades de verdura. enfeitavam o mastro e estava ali alguns 15 dias armado. Vinha o S. Pedro, o Santo António, o S. Pedro, o S. João.
Ent-Faziam também a fogueira...
PE- A fogueira? Ah, isso era nas vésperas da festa
PE- No dia 12 de Outubro de 1932. E a única que eu ouvi. Houve uma, disseram-me que já tinha existido uma, mas eu não me lembro. Não foi do meu tempo, depois disso nunca houve absolutamente mais nada.
Ent-Nunca se juntaram para pedir aumentos, nem nada disso?
PE- Não senhor. Só no dia 12 de Outubro é que se juntaram e o Edmund, o tal Edmund que era o director nessa altura lhes disse assim,"nem mais um vintém".
Ent-Então, mas outros colegas seus afirmam que alguns foram presos por ler o jornal e por algumas politicas...
PE Olhe, ainda foram alguns presos por causa disso...
Ent-Lembra-se de alguns que tenham sido presos nessa altura?
PE-Lembra-me...e tenho um da minha família que também foi preso o António Chico da Graça.
Ent E teve muito tempo preso?
PE-Teve um, não sei, uns dois anos preso.
Ent Mas foi preso porquê?
PE Porque foi apanhado com o Avante!
Ent Mas tinha ai palavras escritas na parede e essas coisas?
PE-Não, disso não. As vezes nas centinas, a gente chamava aqui assim à retrete, às vezes lá apareciam uns jornais.