Philip Allan

Distrito / Pais (se for estrangeiro): 
Inglaterra
Estado Civil: 
Casado
Residência - Localidade: 
Mina de S. Domingos
Informação Pessoal: 

Biografia

Observações: 
Organograma 1913
Empresa: 
Mason and Barry, Ltd.
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Profissão / Categoria: 
Chefe da Contra-Mina
Local de Trabalho: 
Mina S.Domingos
Notas adicionais: 

Allan, V. (1912) ‘My boyhood diary at Mina de São Domingos, Mértola, Portugal 1912’. Texto não publicado. Filho?

"O registo documental que talvez mais informações nos dá, em primeira mão, sobre o
quotidiano da comunidade britânica de São Domingos é o diário (não publicado) de Victor
Allan, cujo pai, Philip Allan, residiu e trabalhou em São Domingos entre 1908 e 1913 como
engenheiro de minas. Victor Allan, cujo nome de batismo era na verdade Philip, foi apelidado de Victor, segundo o seu sobrinho John Measures, devido ao facto de ter nascido na altura do jubileu da rainha Vitória, em 189750. Victor estudava num colégio interno em Inglaterra mas nos períodos de férias escolares regressava à Mina para se juntar aos pais e aos irmãos mais novos, Josephine (Josie) e Hugh (Hughie). Em 1912, Victor, então com 15 anos, permaneceu na Mina de São Domingos entre janeiro e agosto e redigiu um diário, ‘My Boyhood Diary at Mina de São Domingos, Mértola, Portugal 1912’, que se encontra na posse do seu sobrinho John Measures e da esposa, Madge Measures. O diário dá-nos muitas informações não só da composição da comunidade britânica da altura como das suas rotinas diárias e das suas relações sociais, e revela as estreitas ligações existentes entre os membros da comunidade britânica e a elite portuguesa residente na Mina. Ambas habitam no bairro da administração, localizado junto ao edifício da administração (o palácio), e em torno do jardim, onde passam uma parte considerável do seu tempo livre, e perto do lago, onde socializam, passeiam a pé ou em pequenas embarcações."

No diário, Victor descreve os seus companheiros de brincadeiras e aventuras: os irmãos, Josie
e Hughie, Thelma Neville (filha do então diretor local da empresa, William Neville), Edward
Rich (filho de Frederick Rich, engenheiro e chefe dos serviços de exploração), Peggy McBryde
(filha de Anthony McBride, chefe das oficinas), Adelina e Maria Theresa (netas de Júlio
Mascarenhas, chefe administrativo), Carmencita Brito (filha de D. Lucinda Brito), Fernando
Vargas (filho do Dr. Vargas) e Fernando Abecasis, neto de Joseph Abecasis e do médico
António Maurício Vargas 52. Victor descreve também os hábitos de sociabilidade diários que
juntavam as famílias destas crianças e jovens, bem como outros membros do staff britânico e
habitantes portugueses: as visitas interdomiciliárias frequentes (para o chá, o jantar ou festas)
e os passeios no jardim e no lago.
O diário de Victor Allan é igualmente revelador das clivagens – espaciais e sociais – existentes
entre esta elite local, portuguesa e inglesa, e a população mineira. O relato da vida confortável
e alegre desta elite contrasta vivamente com a descrição da vida da população mineira feita
por António Martins e pelos residentes entrevistados por Miguel Rego e José Orta. Apesar de
mencionar as idas ao mercado mensal (Pago) ou às festividades da aldeia (por exemplo às
Festas de São João), Victor omite todo e qualquer contacto com a população mineira, com exceção da descrição de duas ocasiões em que apanhou rapazes locais a roubar laranjas no
jardim de sua casa, num passo que não podemos deixar de pôr em diálogo com o testemunho
de Maria Rocha Martins, anteriormente considerado, que recorda como as crianças famintas
comiam as laranjas podres, caídas no chão, que as senhoras inglesas lhes ofereciam.
14th February – This morning I found a native boy in our garden picking up oranges, and, as
I thought, stealing them. I gave him a cuff and chased him off, and then was sorry, for it
turned out to be a boy whom mother had given permission to pick up windfalls.
16th February – (…) This afternoon, I caught a boy stealing oranges and gave him a hiding.
No mistake this time. (Allan, 1912)
Havia ali uns ingleses que moravam além no jardim. A senhora chamava a gente. Mas só
dava as laranjas e as tangerinas que caíam no chão, picadas das moscas. Nós tínhamos
fome e comíamos aquilo tudo. Foi uma sorte não haver doenças… epidemias. (Rego, 2006)
Tal como Verdun, também Victor Allan descreve algumas discussões entre membros do staff
britânico, as dificuldades inerentes ao clima agreste, especialmente ao calor, bem como as
doenças que vitimavam a comunidade britânica (bem como a população mineira em geral),
nomeadamente a malária: “19th June – The heat is fearful tonight. Candles will not stand
upright and butter and lard are liquid. (…) 30th June – weather blazing! Hughie, Josie, Mother
and myself all down with malaria (…) 2nd July – mother has more fever and is very ill.” (Allan,
1912) Contudo, a doença do pai, Philip Allan, chefe dos serviços da contramina, é talvez o
único aspeto negativo e recorrentemente referido por Victor no seu diário. Tal como o
sobrinho de Victor, John Measures, refere num artigo escrito muitos anos mais tarde, o avô
Philip Allan teve de deixar a Mina em 1913 devido à doença que o afligia, resultante da
inalação dos gases sulfurosos no interior da Mina."Maria João Silva