Nicolau Biava

Nome do Pai: 

Carlos Biava

Nome da Mãe: 

Catarina Tocco Biava

Data de Nascimento: 
1824-06-16
Distrito / Pais (se for estrangeiro): 
Itália
Concelho: 
Piemonte
Freguesia: 
Traversella
Local de Nascimento: 
Traversella
Estado Civil: 
Casado
Nome do Cônjuge: 
Residência - Localidade: 
Mina de S. Domingos e Grândola
Data de Falecimento: 
1866-05-11
Local de Falecimento: 
Lisboa
Local da Sepultura: 
Cemitério do Alto de São João
Informação Pessoal: 
  • Biografia
  • Assento de Nascimento
  • Assento de Casamento
  • Assento de Óbito
Observações: 
Residiu no Rocio de São Sebastião em Grândola. Faleceu ás 17h00 do dia 11 num quarto particular do hospital de São José.
Assento de Casamento (2ªs núpcias): 
Assento de Casamento (3ªs núpcias): 
Assento de Óbito: 
Empresa: 
La Sabina
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Profissão / Categoria: 
Prospector de minas e agente
Local de Trabalho: 
Alosno, Mina S. Domingos e Grândola
Ficha do Sindicato: 
Notas adicionais: 

Avaliação dos bens após a sua morte: https://cemsd.pt/node/13976

DIRECÇÃO GERAL DAS OBRAS PUBLICAS E MINAS
Repartição de minas 2.“ Secção
Relatório acerca da mina de cobre na Serra da Caveira, concelho de Grândola, distrito de Lisboa
Em 2 de novembro ultimo recebi ordem para proceder ao reconhecimento da mina de cobre da serra da Caveira, no concelho de Grândola, de que é requerente Nicolau Biava. Este jazigo dista da vila de Grândola 6 quilómetros no rumo de SE., e acha-se nos últimos contrafortes da grande cordilheira que vem de Puebla (Espanha) e atravessa todo o Alentejo, denominados Serra da Caveira, Montes Azues, ou Montes das Minas de Cobre.O nome de montanhas de cobre, pelo qual em algumas cartas geográficas antigas é designado este local, a Memória ao nosso ilustre compatriota João Maria Leitão, publicada na Revista minera, sobre os jazigos de Portugal em relação com as minas de Rio Tinto, onde fala de Grândola, e a presença de um grande escorial, foram rasões suficientes que levaram a Ernesto Deligny a crer na existência d’esta mina e a considera-la análoga ás da província de Huelva. A este engenheiro se deve o descobrimento e desenvolvimento do maior numero de minas d’este género no país vizinho; tinha a seu cargo a direção técnica e administrativa das grandes massas de cobre de Tharsis, e não podendo ausentar-se do seu posto, mas querendo também fazer efetiva a lavra de jazigos importantes, que suspeitava existirem no nosso país, no prolongamento da zona metalifera que lhe era conhecida, mandou um seu delegado que lhe merecia plena confiança, Nicolau Biava, registar as minas de cobre da Serra de S. Domingos (Mértola), Cabeço dos Moinhos (Aljustrel) e Serra da Caveira (Grândola). Em 1854 principiaram os trabalhos de exploração em S. Domingos, e em 1855 também se fizeram algumas pesquizas em Grândola; como porém a mina de S. Domingos pela proximidade de Tharsis, pela grandeza da massa, e por suas condições económicas, lhe oferecesse maiores vantagens, foi a esta que aplicou primeiramente seus cuidados e atenções. Depois de conhecida e tendo obtido a con­cessão definitiva, mandou então Biava para a Serra da Caveira, e há mais de dois anos que não se interrompem aqui os trabalhos de exploração. Tendo subido á presença do governo diversos relatórios sobre as minas d’esta categoria, posso dispensar-me de re­petir as considerações gerais, que lhes são comuns, e limitar-me-ei a dar a parte descritiva do jazigo e das obras empreendidas. Na planta de reconhecimento, que acompanha este relatório, estão notadas pela cor verde três massas de cobre, que se encontram dentro da demarcação que proponho para este descobrimento. E, porém, necessário explicar-me como dei dimensões a massas que ainda não estão atravessadas por galerias, e pode dizer-se ainda não tocadas. O descobrimento das massas de cobre d’esta classe não direi que seja um facto que não demande conhecimentos geológicos, mas depende em grande parte da pratica, do olho do observador acostumado a enxergar os caracteres exteriores d’estes jazigos. Se não fossem os romanos e mesmo os fenícios, povos verdadeiramente conhecedores da arte de minas, não se acharia montada em Espanha e em Portugal a lavra de algumas importantes, e parece-me que se poderá avançar que, se estes antigos exploradores não tivessem espalhado e gravado no solo monumentos indeléveis do seu trabalho aturado e produtivo, por longos anos estaríamos ainda sem tocar n’uma d’estas massas de cobre, cujas lavras formam atualmente a principal industria, a riqueza e a vida da província de Huelva, e dentro em breve produzirão no Alentejo os mesmos benéficos resultados. Não é mui prudente asseverar a existência de uma massa de cobre, na ausência de afloramentos de minérios, de trabalhos de mineração ou de sondagens, todavia esta classe de jazigos distingue-se pela presença dos crestones, requeimos ou dykes de umas certas quartzites ferriferas e manganeziferas e pelos colorados (terra vermelha).A mina de S. Domingos, as massas de Tharsis e de Rio Tinto são exemplares de estudo; ali se encontram cristãs de quartzites a marcar completamente o perímetro do pousadeiro metalífero, mas em muitas outras minas atualmente em lavra não estão tão belamente definidos os seus limites, as cristãs de quartzites não afloram em toda a extensão da massa, e os schistos superiores ao minério não mostram alteração alguma, estão idênticos aos de toda a região próxima estéril. Na mina da serra de Caveira afloram algumas quartzites ferríferas denunciando, mas de modo vago, a posição e contorno das salbandas; vê-se bastante terra vermelha (colora­dos), inumerável quantidade de poços antigos, imensos escoriais, talvez acima de 300:000 toneladas (!) Todas estas circunstancias reunidas asseguram a presença de massas de cobre. Os antigos quando pretendiam perscrutar um campo metalífero começavam a abrir poços de reconhecimento isolados; se as aguas apareciam em pequena quantidade esta­beleciam os poços gémeos (dois poços mui próximos que ora íam rebaixando um ora outro, e assim conseguiam chegar a alguma profundidade); quando tinham esperanças no jazigo e as aguas os incomodavam, abriam extensas ga­lerias de esgoto, que á superfície eram denunciadas por po­ços em linha: não faziam porém poços mui próximos e em todas as direções senão nos pontos de extração de mineral. Pisando a serra da Caveira encontram-se três manchas de colorado, crestones e uma infinidade de poços antigos; servindo-me de todas estas indicações marquei na planta, as massas com os limites que me pareceram possíveis— dos- verdadeiros contornos só poderá haver exato conhecimento quando se executarem muitos trabalhos de lavra. Não é só por indução que declaro ao governo que se descobriu na serra da Caveira uma mina de cobre, também existe o facto da descoberta: na massa do norte (a Frederica) cortou-se mineral cuprífero de fraco teor, do qual o- descobridor remeteu specimens para a exposição universal de Londres, e se acham já depositados na grande sala de fazenda ou casa de risco. Não têm sido poucas as obras que se fizeram para ir re­conhecendo este campo metalífero, já até ao presente se gas­taram 12:000^000 réis, e vão cilas sendo executadas de maneira a preparar um campo de lavra d’onde se poderão arrancar alguns milhões de toneladas de mineral de cobre. Quando se encontra um jazigo abandonado com escoriais e poços antigos, o investigador deve primeiro que tudo pro­curar os antigos desagues. Na serra da Caveira descobriram-se três galerias de esgoto e todas se começaram a lim­par. N’esta classe de minas não é mui difícil conhecer d’onde desembocam as galerias; por cilas saem as aguas que trazem em dissolução e suspensão diversos sais de ferro e de cobre, e forma-se o que os espanhóis chamam toba, tufo ou conglomerado ferruginoso de moderna data. À galeria que está indicada na planta pela cor amarela, e da qual se fez o nivelamento junto, é de todas a que vae tocar a maior profundidade as massas de cobre. Para se descobrir fez-se um corte de 220 metros de extensão sobre a toba, e seguindo-se o lastro apareceu depois a galeria romana. Por cima d’esta galeria há uma outra galeria antiga, foi a primeira que se limpou, mas não continuava. Entre os poços n.° 6 e n.° 6 (bis) é que se cortou o mineral da massa Frederica, é ali uma extremidade, pois tem a possança de 2 metros. O maior comprimento que se poderá calcular a esta massa será de 300 metros (?) e a máxima largura 60 metros (?). No ponto em que apareceu o minério há desmoronamentos produzidos pelos trabalhos antigos, e estes forçaram os exploradores a passar ao lado d’esta massa. Continuando a galeria sobre o estéril a SE., livre já de embaraços, tentou ir atacar a parte central da outra massa, que parece ser a mais possante. Estão desentulhados uns trinta poços e quasi toda a galeria romana; são trabalhos bem impertinentes, e deman­dam a vigilância de um indivíduo conhecedor das dificuldades e perigos que geralmente ocorrem; Nicolau Biava é digno de louvor pela execução d’estas obras. Há já limpa uma extensão de 956 metros correntes da galeria antiga, faltam ainda 87m,O) para chegar ao poço n.° 26, mas como o solo da galeria se eleva desde o poço n.° 10 até ao n.° 13 foi preciso voltar atrás para rebaixar esta parte. No poço n.° 22 chegava a agua até ao tecto da galeria, e d’ahi para diante ainda não se pôde, seguir. O poço n.° 26, pela presença das aguas, não baixou ainda alem da profundidade de 54ra,0. Desci a este poço que considero estar sobre a massa, o mineral que está debaixo da terra vermelha é decomposto, schisto negro cavernoso car­regado de enxofre. Logo que se chegue ao piso do esgoto natural, tenho confiança em que se poderá trabalhar com toda a liberdade n’este acervo, que é o principal, e apresenta as máximas dimensões 500m,0 por 80ra,0 (?).Se este esgoto, que está em execução, não convier para a lavra por alto, e em rasão dos muitos trabalhos antigos, o terreno presta-se a um outro desague a altura de 120m,0, para o que será necessário então começar essa galeria no ribeiro das Ferrarias. E um sistema de lavra que á empresa concessionária pertencerá estudar e decidir: as maquinas a vapor prestam excelentes serviços na derivação das aguas. A terceira massa é de acanhadas dimensões; meti-a dentro da demarcação para não se estabelecer aqui uma outra empresa, que quisesse incomodar e não lavrar minas ; segui o exemplo da demarcação de S. Domingos, que abrange mais massas do que aquela em que estão colocados os trabalhos subterrâneos. As condições económicas da mina da Caveira não deixam de ser vantajosas. O vale de Guiso (3 quilómetros acima de Alcácer do Sal), ponto em que o Sado é ainda navegável, fica a 17 quilómetros da serra da Caveira; quase todo este trajeto faz-se sobre as arenatas post-terciarias, terreno bem pouco acidentado, onde com extrema barateza se poderá construir um tramway. No Sado não flutuam embarcações de grande lotação; as de maior tonelagem orçam por 150 moios de sal, cerca de 60 toneladas métricas. A mina de S. Domingos deu movimento ao Guadiana; com a lavra d’esta também aumentará a navegação do Sado. O porto e a barra de Setúbal é mui procurado pelos navios estrangeiros, e a proximidade do porto de Lisboa fará com que os fretes para Inglaterra sejam ali mais moderados que no Pomarão. Os minérios que se arrancam d’estas massas podem ser exportados ou beneficiados próximo das jazidas. Quando exportados para Inglaterra sofrem duas vendas; primeiramente as fabricas de produtos químicos aproveitam-se do enxofre, e entregam depois o mineral queimado aos fundidores de cobre. Quando beneficiados nas localidades o tratamento empregado é o da via húmida, denominado da cimentação, e por ele dos minérios do teor de 1, 2 e 3 por cento se con­segue uma cascara de 50 por cento e maior lei de cobre. A serra da Caveira é um sitio ermo, inculto, afastado das povoações e portanto azado para se estabelecerem as teleras e se queimar o mineral ao ar livre; a ribeira do canal, que serpeia no jazigo, é abundante de aguas em todas as estações : estas condições tão favoráveis determinam de certo que se montem ali oficinas de preparação dos minerais, e outras de redução do cobre. Julgo também que da lavra d’esta mina deve nascer, ao pé de Setúbal,. nas margens do Sado, uma nova industria bem importante e necessária. Hoje já remetemos para Inglaterra grande quantidade de pirites, enviámos também para o estrangeiro imenso sal marinho, e em troca d’estas matérias primeiras, que exportamos, importámos os preparados — acido sulfúrico, sulfato de ferro, sulfato e carbonato de soda e os mais produtos químicos de grande e pequena fabricação! Esta triste verdade, que deixo aqui escrita, mostra o nosso atraso industrial, mas este estado de cousas não pode continuar, breve chegará o dia em que um espirito empreendedor e ilustrado levante nas margens do Sado uma grande fabrica de produtos químicos, que não só abasteça o nosso mercado, mas que com vantagem leve ao estrangeiro os seus preparados. Pelo documento junto, registado na camara municipal de Grândola, sabe-se que esta mina fora pedida por Antonio Varão no ano de 1623, e que, havendo falecido, sua mulher requerera a concessão, que lhe foi deferida no ano de 1625, mas nada mais consta na dita camara acerca do desenvolvimento das obras que se fizeram naquela época. Os grandes trabalhos de mineração e de fundições são de uma idade mais remota, e há todas as rasões para crer que foram suspensos pela ocasião da queda do império ro­mano. Termino propondo para demarcação o sexagono A B C D E F, cujos vértices são: Cabeço de Aguia, Serrinho Comprido, Outeiro das Pedras, Serro do Alichoz, Cabeço fronteiro á Arca dos Mouros e Cabeço de Junta, que abrange uma superfície de um milhão e quinhentos mil me­tros quadrados.
Lisboa, 9 de dezembro de 1861. = O inspetor de mi­nas do 4.° distrito e interino do 3.° distrito, João Ferreira Braga. Está conforme. — Repartição de minas, em 27 de maio de 1865. = Antonio José de Sousa Azevedo.

Em Fevereiro de 1853 Biava é mencionado no boletim provincial de Guadalajara por causa da demarcação de uma propriedade mineira.

23 de Junho de 1854-Biava apresenta na camara municipal de Mértola um requerimento para certidão ser emitida com vista a ser reconhecido como descobridor de quatro minas de cobre em diversos lugares do concelho.