Domingos Nunes Paulino

Nome do Pai: 
Foto do Pai: 
Nome da Mãe: 
Data de Nascimento: 
1918-09-21
Local do Registo: 
Corte do Pinto
Distrito / Pais (se for estrangeiro): 
Beja
Concelho: 
Mértola
Freguesia: 
Corte do Pinto
Local de Nascimento: 
Mina de São Domingos
Estado Civil: 
Casado
Nome do Cônjuge: 
Foto do Cônjuge: 
Data do Casamento: 
1939-09-30
Local do Casamento: 
Mina de São Domingos
Nome do Cônjuge (2ªs núpcias): 

Felicidade Maria Nunes

Residência - Localidade: 
Mina de S. Domingos
Morada: 
Bairro Alto
Data de Falecimento: 
2015-02-22
Local de Falecimento: 
Amadora
Informação Pessoal: 
Observações: 
Nasceu no dia 21 de Setembro de 1918 mas foi registado no dia 1 de Outubro do mesmo ano.
Empresa: 
Mason and Barry, Ltd.
Nº. do Sindicato: 
1333
Data do Registo: 
1934-07-24
Nº de matricula: 
8047
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Nº da Caixa de Previdência: 
177
Departamentos: 
Engenharia
Profissão / Categoria: 
Electricista
Habilitações Literárias: 
3ª classe
Serviço: 
Achada do Gamo
Local de Trabalho: 
Mina de São Domingos
Ficha do Sindicato: 
Notas adicionais: 

Grupo de electricistas da Mina, o primeiro da direita é Domingos Nunes Paulino

De: Jacinto Costa Chaves
Entradas
Baixo Alentejo
Para: Exmº Snr.
Domingos Nunes Paulino
Soldado telegrafista nº 153/39/S
Regimento de Cavalaria 3
Estremoz Entradas, 23 de Outubro de 1940
Meu caro amigo
Desejo bastante que ao receber desta se encontre de saúde,
assim como todos os nossos amigos. Se só hoje responda á sua
prezada carta datada de 10 do corrente mês; é porque queria contar-
lhe algumas palavras da célebre feira de C.V como deve saber
teve lugar nos dias 19, 20 até 23. Pois eu abalei domingo e só hoje
regressei já deve fazer uma idea quanto massado devo estar: mas
não devo exitar em escrver-lhe não quero que o amigo suponha
que esqueço os camaradas.
Não acha interessante a minha tão grande demora na feira
sem ter negócios? Pois uma sopeira é que foi a causadora de tudo
isto; chego até ter pena de gostar tanto do belo sexo, mas para a
frente é que se caminha não acha? Sempre vos digo alguma coisa
sobre a feira o que já deve fazer idea o que seja, pois prostitutas
eram em grande numero, cada vez se vê mais miséria todos
pensavam em vender visto a crise que o Alentejo atravessa deve
ser das maior até hoje conhecidas centenas e centenas de desempregados
a braços bom a miséria sem terem que comer e nem
dar aos filhos, e o governo não lhe interessa o mal do povo! As
camaras nada fazem e continua-se sofrendo porque não valhem
de nada as suplicas deste martirisado povo….! Queremos trabalhar”
À dias um numero de 450 homens de C.V. foram á Camara
pedir trabalho e disseram-lhe que fossem pedir; nada podiam
fazer, e dividindo-se em grandes grupos foram pelas ruas batendo
de porta em porta pedindo esmola: recordou-me a camarada “já
leu?” e passados dois dias apareceu às portas dalguns ricaços
um papel dizia: queremos trabalho… e seguia-se a lista do nomes
e dizendo estes cortasse-lhe a cabeça: passadas algumas horas
chega a C.V uma camioneta carregada de metralhadoras e uma
força de Cavalaria, disiam que o povo estava revoltado, enquanto
devia dar pão aqueles infelizes mostrão lhe metralha. já faz o
amigo idea o que aquela gente será capaz de fazer amanhã e só
arranjaram trabalho para 300 e os outros morrerão de fome pelo
que vejo passei à Funcheira disseram-me que desenas de mineiros
(Aljustrel) pediam esmola em C.V. gare era pena verem-se grupos
de raparigas a pedir; bem vestidas pois eram em parte costureiras
filhas dos infelizes mineiros que viviam satisfeitos e felizes e
hoje veem-se reduzidos á miseria. existe tanta sede de vingança
que mais não pode ser, não é possível que dure por muito tempo
esta situação a violência será inevitável e a sua aparição. Termino
por falta de espaço diga ao xico que a familia espera carta dele
recomende a todos e abraça-o seu amigo certo
(a) Jacinto Chaves
P.S. Caro Nunes
Peço-lhe que diga ao gato que logo que mandem a encomenda
não esqueça os enanicolos e as alssas e o amigo logo que receba
o dinheiro paga os livros a caneta e deve sobrar dinheiro que
chegue para me tirar meia dúzia de fotografias á “paisana” por
esse que ofereci ao gato se ele o não tiver vá à do Romão que lha
emprestará.
Essa rapaziada deve estar zangada comigo mas não é por
mal que não escrevo em vendo o Romão dei-lhe recomendações
Barra e aos sapateiros da oficina onde nós hia-mos ás vezes quero
dizer o colega que foi apresentar despedidas á cama, p’ra frandina
não escrevi porque não sei a direcção e alem disso pouco deve
interesar mas sempre que é cultivar terra para você semear diga
ao Manuel que eu penso em ir para Lisboa e em tendo a certeza lhe
escrevo para ver se calha uma ocasião de ele estar lá. Sobre Lisboa
direi qualquer coisa logo que tenha esperança de me colocar,
não será preciso o xico saber isto percebe? Não é por mal!...
Então o Vabouca como vai? com as suas “coijas” recebi hoje as
Meninas de Pilar.
Não sei se conhece um livro que é: Os Sindicatos Operários e a
Revolução Social coisa formidável. Tenho e não sabia.
Nota: transcrito conforme documento dactilografado pelo agente da PVDE
Trabalho de pesquisa realizado pelo DR Miguel Rego e publicado no boletim informativo da C.M de Castro Verde-O Campaniço nº77 de Maio/Junho/Julho de 2008 artigo intitulado "Recordar um antifascista-Jacinto António Chaves" o artigo em questão é baseado numa carta endereçada ao meu avô Domingos Nunes Paulino na altura soldado telegrafista.

Grupo de homens na Mina de São Domingos, o da direita (no grupo) é Domingos Nunes Paulino, o da barba preta é o conhecido barbeiro Francisco Pires